CEFAVELA leva pesquisadores para visitas técnicas em favelas de Diadema e São Paulo

Entre os participantes, pesquisadores de universidades da Argentina, África do Sul e Inglaterra tiveram oportunidade de observar a realidade das comunidades.

Quatro áreas originadas de favelas e loteamentos irregulares, localizadas em Diadema e São Paulo, foram percorridas por pesquisadores nacionais e internacionais em visitas técnicas promovidas pelo Centro de Estudos da Favela (CEFAVELA-Cepid/Fapesp). Entre os estrangeiros estavam cientistas da Argentina, África do Sul e Inglaterra, que fizeram parte de atividades focadas na internacionalização do Centro. Foram visitadas as áreas Vila Olinda e Iguassu, em Diadema; e as comunidades Guaicuri, na Vila Missionária, e Heliópolis, ambas em São Paulo.

“O objetivo dessa iniciativa foi proporcionar aos parceiros internacionais do CEFAVELA uma imersão na realidade das favelas e comunidades urbanas da metrópole de São Paulo”, afirma Camila Saraiva, pesquisadora associada e coordenadora de Projetos Internacionais do Centro. Segundo ela, as áreas visitadas foram selecionadas por apresentarem bastante heterogeneidade entre si. “Isso possibilitou o contato com uma diversidade de questões e temáticas que atravessam a formulação e implementação de projetos de urbanização, e também como se dá a apropriação e manutenção dos espaços após a realização das obras”, acrescenta.

Os professores Maria Cristina Cravino, da Universidade Nacional General Sarmeinto, da Argentina; Marie Huchzermeyer, da Escola de Arquitetura e Planejamento da Universidade de Witwatersrand, da África do Sul; e Ramin Keivani, chefe da School of the Built Environment da Oxford Brookes University, da Inglaterra, foram os participantes internacionais das visitas técnicas, realizadas nos dias 14 e 15 de maio. 

As visitas foram parte do programa de acolhimento aos pesquisadores internacionais e de intercâmbio criado pelo CEFAVELA como atividade prévia a participação no XXI Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (ENANPUR), que será realizado entre 19 e 23 de maio, em Curitiba, Paraná.  

As atividades nas visitas 

A primeira visita foi feita na favela Guaicuri, localizada próximo à represa Billings. “Selecionamos essa localidade por estar em área de manancial e ter programas de política pública desenvolvidos ali”, explica Camila. Com cerca de 3 mil famílias, essa é uma das favelas atendidas pelo Programa Mananciais com recursos federais da primeira edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Estão programadas para a região obras de contenção e mitigação de riscos, urbanização, conexão ao coletor-tronco de esgotamento, canalização de cursos d’água e paisagismo. 

Além do PAC, há recursos aportados pela Sabesp, empresa estadual recentemente privatizada, e pela prefeitura de São Paulo. De acordo com a municipalidade, está prevista a construção de 1.090 unidades habitacionais no Guaicuri, divididas em 22 condomínios para atender as famílias removidas devido às obras e contempladas com auxílio aluguel. 

Em Guaicuri, os participantes da visita, guiada por Ana Clara Gurgel, técnica da prefeitura paulistana, puderam ver a área onde havia muitos barracos próximos ao córrego que corta a região. As unidades foram removidas e a região passa por obras de urbanização com provisão habitacional. Os pesquisadores visitantes puderam entrar em uma das novas unidades habitacionais, nas quais estão sendo assentadas as famílias, que permaneceram na própria região. A canalização será finalizada com a implantação de um parque, que vai cortar verticalmente a favela e se integrar à área de outro parque já executado na região, o Sete Campos.

A segunda visita foi feita em duas áreas de Diadema, Vila Olinda e Iguassu. “A Prefeitura tem investido há mais de uma década em programas de melhorias habitacionais, então é um local interessante para se observar o impacto da política pública”, observa Saraiva. A favela de Vila Olinda é urbanizada e foi alvo do Programa Tá Bonito, da prefeitura, que realizou melhorias entre 2007 e 2010. Já Iguassu é classificada como loteamento de interesse social. Ali foram realizadas melhorias com recursos federais do PAC entre 2018 e 2020. “São áreas com características diferentes em termos de tamanho, densidade e da interface com a questão ambiental, daí termos selecionado ambas para as visitas técnicas”, completa ela.

A visita em Diadema teve como guias Leonardo Pequi e Cláudia Bastos, técnicos da prefeitura, e se iniciou pela favela do Iguassu, situada em região próxima de mananciais e onde também houve obras de urbanização e melhoria habitacional. Lá, os pesquisadores caminharam na área onde havia barracos de madeira que foram substituídos por sobrados geminados. Algumas unidades pré-existentes foram mantidas e objeto de melhorias, como recomposição das fachadas, ampliação de área e abertura de janelas. Os visitantes também estiveram na estação elevatória de esgoto. 

A outra visita em Diadema foi feita na Vila Olinda, uma favela maior que passou por processo de urbanização, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, e foi objeto de intervenção do programa “Tá Bonito” no início dos anos 2000. Várias unidades receberam intervenções, especialmente as que estão muito próximas de uma linha de transmissão que era da Eletropaulo, com quem a prefeitura negociou para melhoria das unidades. Até hoje as propriedades não foram regularizadas por causa da proximidade da linha. Os pesquisadores puderam caminhar até uma outra linha, que fica na divisa com outra comunidade, a qual também foi alvo de intervenção, com paisagismo e manutenção de  uma área livre para estacionamento de veículos, uso que já era feito pela comunidade. 

A última visita técnica foi feita em Heliópolis, uma das maiores favelas de São Paulo. Ela tem algumas particularidades, como possuir uma localização central, facilidade de acesso a transporte público, equipamentos de educação e saúde. Estima-se que cerca de 200 mil pessoas morem em Heliópolis, onde, desde os anos 1990, têm sido realizadas intervenções no âmbito de diferentes programas de urbanização, com financiamento municipal, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo federal. “Heliópolis é hoje composta por um mosaico de áreas bem consolidadas, conjuntos habitacionais construídos pelo poder público e bolsões de intensa precariedade, inclusive com alta propensão a enchentes e alagamentos, ainda aguardando intervenções”, conta ela. 

A favela vem sofrendo um intenso processo de verticalização e reocupação de áreas livres resultantes de projetos de infraestrutura e urbanização. Isto foi amplamente observado pelos pesquisadores durante a visita, quando puderam conferir os diversos prédios novos ou em construção e as placas de vende-se e aluga-se de imobiliárias ou moradores. Também visitaram a área próxima a canalização do córrego Ribeirão dos Meninos, incluindo uma em que a margem de um dos lados foi aproveitada pelos proprietários das casas existentes na outra margem para construção de áreas de lazer, lavanderia e outros usos. 

Antes da visita, os pesquisadores foram recebidos por Reginaldo José Gonçalves e Cláudia Soares, integrantes da União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS), que apresentaram a história da formação de Heliópolis, da própria UNAS e da luta dos moradores por melhoria nas condições de vida da população local. Gonçalves guiou os participantes pela visita técnica, que se concluiu com uma passagem pela Biblioteca Comunitária de Heliópolis que a UNAS construiu na favela. Os pesquisadores terminaram a visita subindo ao último pavimento da biblioteca, onde um solário permite uma visão ampla da favela e de grande parte da cidade de São Paulo.

Outras atividades no CEFAVELA

Os pesquisadores internacionais também foram palestrantes do “Seminário Diálogo Internacional sobre Urbanização de Favelas”, atividade aberta ao público realizada em 15 de maio. Além disso, outras duas iniciativas foram realizadas, dentro da iniciativa de ampliar a internacionalização do CEFAVELA, apenas para a equipe do Centro e convidados. Uma foi a oficina “Urbanização de Favelas no Sul Global: Onde estamos e para onde queremos ir?”,  ocasião que permitiu uma ampla troca de conhecimento mais aprofundado entre pesquisadores e gestores de diferentes cidades e países no debate sobre o atual estágio das políticas de urbanização de favelas e direções futuras. A outra foi uma reunião de avaliação entre a coordenação do CEFAVELA e os pesquisadores associados internacionais.

Confira os álbuns de fotos no perfil do CEFAVELA no Flickr:
Visitas técnicas:
https://www.flickr.com/photos/201890456@N06/albums/72177720326252844/ 
Seminário Internacional:
https://www.flickr.com/photos/201890456@N06/albums/72177720326252649/ 
Oficina:
https://www.flickr.com/photos/201890456@N06/albums/72177720326229362/ 

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Sobre o CEFAVELA:
Com sede na Universidade Federal do ABC (UFABC), o CEFAVELA é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP e comprometido com o desenvolvimento de pesquisas, formação de recursos humanos, transferência de tecnologia e difusão de conhecimento para a sociedade sobre as favelas, em articulação com diversas instituições, movimentos e organizações sediadas e comprometidas com a agenda territorial das favelas. O CEFAVELA busca, por meio de uma abordagem interdisciplinar e multiescalar, gerar, articular e disseminar conhecimentos para ampliar a compreensão das dinâmicas territoriais das favelas e as formas de reprodução de desigualdades espaciais, bem como dos limites e potenciais de programas e políticas de melhoria desses territórios no contexto urbano contemporâneo.

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