Brasil tem mais de 12 mil favelas habitadas por 16 milhões de pessoas

Concentrações Urbanas como Belém e Manaus chamam a atenção por ter mais de 50% de sua população morando em favelas, destaca Flávia Feitosa, pesquisadora do CEFAVELA.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira (08/11) os dados do Censo Demográfico 2022 referentes às favelas e comunidades urbanas do Brasil. Eles revelam que o país possui 12.348 favelas, onde vivem mais de 16 milhões de pessoas, o que representa 8,1% da população brasileira. Nas grandes concentrações urbanas estão mais de 82% dos residentes em favelas. Quando se observa apenas a população dessas áreas, percebe-se que 16,2% do total moram em favela, indicador que é o dobro do nacional.

“Algumas dessas concentrações chamam a atenção, como é o caso de Belém e Manaus, onde mais de 50% da população reside em favelas, com 57,1% e 55,8%, respectivamente”, destaca Flávia Feitosa, pesquisadora do Centro de Estudos da Favela (CEFAVELA), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp), sediado no campus de São Bernardo do Campo da Universidade Federal do ABC (UFABC).

De acordo com o Censo do IBGE, a maior parte das favelas são relativamente pequenas – 72,5% têm até 500 domicílios. “Temos, porém, cerca de 12% das favelas com mais de 1.000 domicílios, com destaque para a Rocinha, no Rio de Janeiro, que é a maior delas – possui 72 mil moradores e mais de 30 mil domicílios”, destaca. 

(Foto: Paraisópolis, São Paulo -SP. Wikimedia)

O Censo IBGE mostra também que 51,7% dos moradores das favelas são mulheres e que a população das favelas é mais jovem do que a do restante do país. “A idade mediana das pessoas na favela é de 30 anos, enquanto no país como um todo é de 35 anos”, aponta. A população é predominantemente negra – quase 73% (72,9%) dos moradores se declaram pretos ou pardos, enquanto no país como um todo esse percentual é de 55,5%. “Esses dados já eram esperados, mas agora temos uma quantificação mais atualizada sobre o perfil dos moradores quanto a sexo, raça e idade”, completa.

De acordo com Flávia Feitosa, os dados sobre as características dos domicílios mostram, ainda, como restam muitos desafios em relação à infraestrutura nos territórios das favelas. “Por exemplo, o Censo mostrou que 1,8 milhão de domicílios ainda não têm ligação à rede de água e 4,3 milhões que não possuem esgotamento sanitário adequado”, diz. 

Importância dos dados e inovações

“Dados como esses são fundamentais para que o Brasil conheça esses territórios, para que as populações das favelas possam fundamentar suas reivindicações, e para que ações efetivas na promoção de melhorias das condições de vida das pessoas possam ser pensadas, planejadas, pelos moradores e pelo poder público. Não é possível realizar isso sem informações de qualidade”, aponta.

“São informações muito importantes para ampliar a visibilidade desses territórios, e eram muito aguardadas porque os dados nacionais e oficiais sobre favelas, com esse detalhamento, ainda eram de 2010, data do último censo. Estavam com uma defasagem de 14 anos”, afirma. 

Para a pesquisadora, houve uma melhoria significativa na qualidade dos dados neste último Censo, o que inclusive dificulta comparações com dados do censo anterior. “Temos mais favelas mapeadas agora, o que não significa que algumas delas já não existissem em 2010, quando foi realizado o censo anterior”, ressalta. 

O IBGE, ao longo do tempo, tem introduzido inovações metodológicas importantes para melhorar a qualidade dos dados oficiais das favelas. Isso inclui a análise de imagens de satélite, uso de dados auxiliares como pontos de energia elétrica, levantamento de campo e consultas a prefeituras, atores locais e outras parcerias diversas. 

Além dessa melhoria na qualidade dos dados, cabe destacar que o IBGE utiliza uma nova nomenclatura para esses territórios – “favelas e comunidades urbanas”. A adoção desse novo termo foi realizada após um amplo debate, que envolveu movimentos sociais, órgãos governamentais e a comunidade acadêmica. Flávia Feitosa foi uma das participantes do grupo de trabalho que discutiu o conceito e mudança de nomenclatura. 

“Nos últimos censos o termo utilizado era aglomerado subnormal, o que era muito rejeitado por vários segmentos da sociedade, por estar associado a uma visão estereotipada da favela”, lembra. “A favela não é subnormal, favela é cidade. E reconhecê-la como cidade envolve adotar uma nomenclatura adequada, como favelas e comunidades urbanas”, conclui.  
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Sobre o CEFAVELA:
Com sede na Universidade Federal do ABC (UFABC), o CEFAVELA é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP e comprometido com o desenvolvimento de pesquisas, formação de recursos humanos, transferência de tecnologia e difusão de conhecimento para a sociedade sobre as favelas, em articulação com diversas instituições, movimentos e organizações sediadas e comprometidas com a agenda territorial das favelas. O CEFAVELA busca, por meio de uma abordagem interdisciplinar e multiescalar, gerar, articular e disseminar conhecimentos para ampliar a compreensão das dinâmicas territoriais das favelas e as formas de reprodução de desigualdades espaciais, bem como dos limites e potenciais de programas e políticas de melhoria desses territórios no contexto urbano contemporâneo.
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